Em tempos de pandemia, um comando se sobressai diante de tantos outros, qual seja: cuide-se. A rotina agitada em tempos normais nos faz, muitas vezes, deixar de lado o nosso bem-estar e acabamos em uma roleta de estresse, excesso de trabalho, poucas horas de sono, pouco contato com nossas famílias e uma péssima alimentação.
Com poucas exceções, entre elas os profissionais da saúde (que estão imersos em uma rotina de exaustão), a crise causada por uma pandemia fez o resto do mundo parar. O isolamento social faz com que as pessoas olhem mais para si mesmas e para as suas questões. Mas, é importante destacar que cada ser humano reage de um modo, ainda que as situações sejam semelhantes. Nem todo mundo vai conseguir superar esta fase da melhor forma, portanto, não se culpe! Não há uma receita pronta que, após segui-la, todos vão alcançar o bem-estar durante e após o confinamento, mas algumas atividades podem ser bastante benéficas.
Certos cuidados especiais devem ser seguidos, são eles: reinventar-se e estimular as pessoas ao seu redor a se reinventarem; aprender uma nova atividade; evitar o excesso de informação; checar as informações antes de compartilhá-las (evitar a disseminação das “fake news”); tentar manter uma rotina diária (para evitar passar o dia parado e sofrendo com todas as incertezas e medos que o momento provoca); fazer exercícios e/ou técnicas de relaxamento; ler aquele livro que estava na sua estante há tempo; estabelecer atividades comuns entre os membros da casa, devendo reservar momentos para atividades individuais.
O autocuidado aparece como uma arma poderosa contra o colapso na saúde do indivíduo e da sociedade, de modo geral. Pequenas ações que o sujeito faz em seu próprio benefício (ex: adotar medidas de higiene e isolamento) representam uma grande colaboração para o coletivo.
Em compasso com todo o cuidado que está sendo exigido da sociedade, para evitar a propagação de um vírus perigoso e letal, também deve estar a preocupação das empresas com os seus colaboradores. Para manter a relação de confiança existente, as empresas devem ser transparentes com os seus empregados, mantendo-os informados (na medida do possível) sobre as dificuldades enfrentadas; a comunicação deve ser eficaz e os empregados precisam sentir o apoio dos seus líderes. Os gestores devem exigir dos seus empregados aquilo que é possível, evitando colocar a saúde deles em risco; manter políticas adequadas de saúde e segurança no trabalho, disponibilizando os materiais necessários para a segura execução das atividades.
Os empregadores devem orientar seus gestores a acompanhar de perto os membros de sua equipe, para que possam perceber sinais de que algo não vai bem com a saúde mental do colaborador e incentivá-lo a procurar ajuda – pois, muitas vezes, há uma grande resistência, em razão dos estigmas existentes em relação às pessoas que sofrem de transtornos mentais.
Quando não for mais possível manter determinado empregado na equipe, é importante fazer uma entrevista de desligamento, buscando ouvi-lo e destacar as suas qualidades, para que ele possa ter mais autoconfiança na busca do próximo emprego. Essa orientação deve ser seguida, especialmente, se a pessoa tiver trabalhado por muitos anos na empresa. Uma dose de reconhecimento não faz mal para ninguém!
Como destacou Jardim et al (2010), a “perda efetiva da posição ocupada ou do posto de trabalho, no caso de demissão, podem determinar depressões mais ou menos graves, mais ou menos protraídas”. Ao tempo em que o trabalho é tão importante em nossas vidas, incontáveis sofrimentos e adoecimentos estão relacionados a ele. Por isso, cabe ao empregador a preocupação, a redução e eliminação das fontes que geram o adoecimento psicológico.
O capital intelectual é vital para a manutenção de toda e qualquer organização. E, com vistas a manter os empregados integrados ao trabalho, é importante envolvê-los nos problemas, de forma a gerar soluções colaborativas. Cabe ao empregador ampliar as discussões sobre situações que geram impactos na saúde mental dos trabalhadores, realizando ações de prevenção, fortalecendo o elo entre o indivíduo e seu ambiente de trabalho.
Os impactos de uma pandemia na vida da maior parte da população são desastrosos, mas se agirmos de forma construtiva e colaborativa, principalmente no cenário laboral, podemos ajudar psiquicamente o outro. Às empresas, recomenda-se, ainda, que sigam as orientações do Ministério da Saúde e de especialistas em epidemiologia, na luta contra o inimigo invisível.
Maria Cecília S. Maior da Fonsêca
Advogada/Psicóloga
Pós-Graduada em Direito do Trabalho e em Psicologia Jurídica