O resultado da falta de letramento financeiro agora ameaça o orçamento das já endividadas famílias brasileiras. Mas é preciso reconhecer que esta é uma tragédia anunciada.
Vinte bilhões de reais. Esse é o volume mensal que o brasileiro transferiu para apostas online neste ano, segundo recentes estimativas do Banco Central. O que começou como um fenômeno nas redes sociais agora ganha contornos práticos na vida das famílias, que estariam até mesmo reduzindo a compra de mantimentos em meio à popularidade do “jogo do Tigrinho”. Essa febre, no entanto, é apenas mais um sintoma de um mal que aflige o país há muito mais tempo: a falta de educação financeira.
A promessa é tentadora: as apostas se apresentam falsamente como uma ideia de investimento com retorno rápido, disponível de forma simples e acessível. O poder de convencimento de tal discurso ilusório é inegável: apenas nos primeiros sete meses de 2024, 25 milhões de brasileiros passaram a apostar via internet, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva — cinco vezes mais do que o número de CPFs que investem em ações na B3. Para se ter uma ideia, mesmo quando somadas as classes de renda fixa e de variável da B3, o número não chega a 20 milhões de pessoas. Não existe melhor referência que represente a falta de cultura de investimento no nosso país.
Quando se trata de jogos de azar, há naturalmente uma gama de fatores neuropsicológicos que explicam seu caráter viciante que não estão no escopo desta análise. O que nos cabe questionar, como representantes da indústria financeira, é o que leva os brasileiros a se tornarem presas fáceis deste tipo de “solução milagrosa” e, principalmente, como podemos contribuir para sanar este problema.